Apesar de só se falar
em Copa do Mundo em 2014 e Olmpíadas em 2016, bem antes, em junho de 2012, o
Brasil sediará a Rio+20. Trata-se da mais importante conferência da ONU que
reunirá governantes de mais de 200 nações para avançar as reflexões e
negociações em torno de como efetivarmos no mundo o desenvolvimento sustentável,
aquele que deve manter o equilíbrio entre parâmetros econômicos, ambientais e
sociais para poder “garantir às futuras gerações as condições de atenderem suas
demandas”.
O evento será
realizado no Rio de Janeiro, mesmo local onde há 20 anos, foi realizada a
Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento, a Rio92.
Assim, a Rio+20 é mais um momento chave na sequência de inéditos diálogos mundiais
pós II Guerra onde também estão as Conferências de Estocolmo em 1972 e de
Joanesburgo em 2002 e que desde lá pauta, por consenso, a revisão das bases do
modelo industrial-financeiro capitalista hegemônico no planeta mas que já
demonstra em diversas frentes seu esgotamento e o impagável custo para mantê-lo
com a degradação ambiental e a miséria humana. Ambos fatores que colocam a
própria vida do planeta em risco.
Vem ocorrendo
uma série de eventos preparatórios em todo o mundo, envolvendo governos, ong’s,
empresas e muitos outros setores. Oficialmente, a diplomacia dos governos têm
pautado a questão da “economia verde“, como ponto
central. Mas há muito mais em jogo que pode ser ofuscado pela fabricação prévia
de resultados.
Um dos elementos que podem ser
ofuscado é a questão da "educação
para a sustentabilidade". Focar em soluções paliativas e imediatistas
é fugir de um dos fundamentos metodológicos do pensamento estratégico
sustentável, a formação de novas consciências e culturas capazes de tornar as
gerações vindouras mais aptas a tomarem as atitudes cotidianas que nossa
geração tem tanta dificuldade de adotar como a reciclagem, por exemplo.
Esta idéia conta com um defensor de
peso, o físico Fritjof Capra autor de O
Tao da Física, que fundamenta sua defesa condenando duramente os pilares da
"nova economia" e o capitalismo globalizado, como o livre fluxo
financeiro, que, segundo ele, adquiriu precedência sobre os direitos humanos, a
proteção do meio ambiente e até sobre a própria democracia. Segundo Capra, sem o
fortalecimento de um novo tipo de sociedade civil, que tenha como desafio
reconstruir as regras da globalização, para priorizar a dignidade humana e a
sustentabilidade ecológica, promovendo novos processos industriais,
ambientalmente amigáveis, não haverá solução viável e prática. Por isso defende
a multiplicação de núcleos de ecoalfabetização em escolas e universidades o que
inclui a alfabetização ecológica, que é um dos seus projetos mais bem-sucedidos.
Só 46% dos cereais plantados alimentam
pessoas
Ao alcançarmos
o sétimo bilhão de terráqueos em 2011, constata-se que a humanidade – através de
seus governos - pouco colaboraram para encontrar solução para problemas
medievais como a fome. Problema que, em pleno século XXI, faz parte do
cotidiano de mais de 1 bilhões de seres humanos, segundo a FAO, órgão da ONU
para agricultura e alimentação.
Mais uma vez, a educação é um ponto
central por aperfeiçoar não só a produção mas sobretudo o consumo. A crescente
riqueza em alguns países em desenvolvimento elevou a quantidade de carne consumida
por pessoa na Terra em quatro vezes desde 1961.
Países antes pobres, como a China, aumentaram enormemente a
demanda, e muito do gado é alimentado com grãos, cultivados em terra
agricultável que podia ser usada para plantar comida. Os ricos conseguiram
melhorar sua dieta, o que é bom, mas às custas dos pobres, que não têm como
bancar a competição com os animais. Em 2009-2010, o mundo cultivou 2,3 bilhões
de toneladas métricas de cereais. Do total, 46% foi para a boca de pessoas, 34%
foi para animais e 18% foi para máquinas para produzir biocombustível,
plásticos entre outros produtos.
"Capitalismo está quebrado! Instalar novo sistema?"
Para que as crianças tenham cérebros
que funcionam, é preciso assegurar que tenham acesso a boa comida. Não estamos
fazendo isso. Estamos desperdiçando nossas crianças sem ver o custo econômico. Há
um conceito em economia chamado “custo de oportunidade”, que é o que você perde
ao não explorá-la. Nosso péssimo tratamento das crianças é um custo de
oportunidade enorme que não é incluído nos sistemas econômicos nacionais.
Sem uma educação para a
sustentabilidade a questão do controle populacional não sairá do autoritarismo
para se estabelecer como ato de livre consciência, assim como os investimentos
em desenvolvimento e o uso da comida que o mundo produz hoje restringe-se à
decisão de poucos. Para agravar a situação, cada vez fica mais evidente que a
mudança climática, seqüela do tal modelo industrial-financeiro capitalista, é
uma ameaça à produção de comida, à vida das espécies, incluindo a humana.
Outra questão correlata que também corre o risco de passar ao largo do debate na Rio+20 é exatamente a concentração da riqueza, pela primeira vez questionado frontalmente no centro político do modelo econômico através do movimento Occupy Wall Street ou Ocupe Wall Street(rua de Nova Iorque onde ficam as sedes dos principais conglomerados financeiros do planeta).
Parte da própria população dos EUA
começou a questionar os lucros dos banqueiros, que a exemplo dos bancos no
mundo todo, com os brasileiros, mesmo com a crise, bateram recordes impensáveis
e insustentáveis.
Um grupo renitente de americanos, então enfrentando o frio e a polícia para ocupar as ruas e denunciar que 1%(um por cento) da população mundial possui quase 40% das riquezas do planeta, segundo o Credit Suisse.
Um grupo renitente de americanos, então enfrentando o frio e a polícia para ocupar as ruas e denunciar que 1%(um por cento) da população mundial possui quase 40% das riquezas do planeta, segundo o Credit Suisse.
O Global
Wealth Report(Relatório da Riqueza Mundial) da
instituição financeira suíça que fez a afirmação acima, acrescentou que os bens
destes 1% cresceram 29% em apenas um ano duas vezes mais que o crescimento da
riqueza total do planeta. E como no topo, o vale tudo da disputa é muito
acirrado, estar entre os 1% é um risco alto. Por isso, em 2008 ano do estouro da
crise, foi aprovado um “socorro” aos banqueiros de Wall Street de 600 bilhões. Diante
de tal iniciativa “previdenciária” junto aos banqueiros é engraçado ver as campanhas para a diminuição dos
gastos com a saúde pública feita pelo governo americano. Exemplo que tem
seguidores em todo o mundo.
A desigualdade e a concentração de
renda, riqueza e poder portanto, não são efeitos colaterais do sistema
capitalista. Na verdade, são condições necessárias para sua reprodução. São, ao
mesmo tempo, causa e efeito da crise. O neoliberalismo adotado com entusiasmo
desde a década de 80 nos trouxe a este quadro.
Um quadro cujo dano mais grave, mais
grave que a própria miséria, é o desgaste e a descrença na democracia, porque
aniquila a possibilidade de um futuro com liberdade humana verdadeira.
Mas a liberdade, ao mesmo tempo, é uma
faculdade humana que não se pode arrancar para sempre. Na primeira fissura, no
menor espaço possível, as raízes dos nossos sonhos vicejam na proporção de
nossa determinação e vontade consciente, para se fazer fato.
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