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14.10.09

Entrevista para Blog da Edilza



1) Desde quando você é militante do Partidos dos Trabalhadores? e por que esta opção ?
Desde 1982. O grupo político em que militava, o PRC(Partido Revolucionário Comunista) que atuava clandestinamente, acabava de eleger o vereador Humberto Cunha pelo PMDB, como estratégia de enfrentamento às forças da Ditadura Militar que combatíamos, e, como passo seguinte na mesma estratégia, nos filiamos ao PT fazendo assim seu primeiro parlamentar em Belém. No início, a escolha pelo PT era um movimento tático. No entanto, o avanço da democracia que conquistamos nos colocou diante do desafio estratégico de pensar a transformação social não mais a partir de um movimento armado que culminaria com a tomada do poder, mas a partir de movimento de massas combinados com avanços institucionais conquistados em processos eleitorais. Com a constituição de 88, isto de consolidou e acabou fazendo com que nosso grupo, em congresso nacional, decidisse pela dissolução e diluição no seio do PT, para reforçá-lo. Alguns outros grupos que tinham uma organização como a nossa não se diluíram, apenas se converteram em tendência no interior do PT. Talvez por isso, até hoje, tenha gente que não acredite na nossa dissolução e sofra com visões do fantasma do PRC, até hoje.

2) Conte um pouco de sua trajetória no PT ?
Quando entramos no PT, em 82, trouxemos também o maior grupo de militantes estudantis universitários do estado, a Caminhando, entre outros militantes que atuavam no movimento sindical, comunitário, em igrejas e em ong’s. Eu era um dos militantes que organizava o movimento estudantil universitário que foi, ao lado do movimento sindical, uma das principais bases para o fortalecimento do PT em sua primeira década. Período em que lutamos contra a privatização das universidades públicas e tivemos conquistas históricas com a “Meia Passagem”. Depois fui convidado para fundar a UNIPOP(Instituto Universidade Popular) que tinha como missão a formação dos militantes para o enfrentamento político já na democracia e, onde fui educador por 12 anos. Lá, pudemos participar ativamente da primeira eleição direta para presidente, em 89. Na década de 90 é que passei a compor o diretório estadual por um ou dois mandatos, depois fui secretário de formação do diretório estadual, quando ajudamos a coordenar 3 Conferências da Amazônia, fui da coordenação nacional do setorial ambiental do partido, ajudamos a escrever o capítulo “Amazônia” no programa de Lula, em 2002, e minha tarefa mais recente, como militante do partido, foi na assessoria à coordenação da campanha do companheiro Mário Cardoso a prefeito de Belém.

3) Por que tantos candidatos ao PT – Belém? Em sua opinião, o que significa esta disputa, este processo é bom para o PT?
Acho que a unanimidade que se formou em torno do nome de João Batista, nosso candidato a reeleição como presidente estadual, fez com que a disputa interna ganhasse maior expressão na eleição para o diretório do PT Belém e demais municípios. E acho que a oportunidade de exercitarmos a democracia petista ajuda mais o partido do que as disputas frias, como será a estadual. Na disputa há chance de novas idéias na busca de adesões, a militância é procurada e tem a chance de se manifestar como fazia mais ativamente no passado. E acho que este processo em Belém, pelo nível dos candidatos, deve proporcionar um grande momento de reflexão no seio da militância petista.

4) Por que sua candidatura a presidência do PT Belém ? e o que ela difere das outras?
Depois de 28 anos como militante, esta é a primeira vez que sou candidato. Por que?
Porque nunca foi um projeto pessoal, se eu quisesse já teria sido. Eu sempre me coloquei como um técnico, com visão política, um assessor comprometido e um educador engajado aos movimentos populares, acontece que ao longo de todos esses anos fui me decepcionando, como vários outros militantes, com os projetos políticos que apoiamos e falharam em dois pontos principais: Primeiro, a prática política foi mudando até fazer com que o que era construído coletivamente passasse a ser decidido por poucos e até por uma única pessoa. A liderança passou a ser chefia e os militantes passaram a ser funcionários. Lutamos tanto contra a opressão da Ditadura, agora vemos companheiros com medo de expressar suas próprias idéias, por medo de perderem o emprego ou alguma vantagem, acho isso grave. Precisamos voltar a refletir sobre a liberdade para não cairmos em novo tipo de dominação. Segundo, em nosso programa partidário, na estratégia de transformação social rumo ao socialismo, a conquista de espaços públicos, como no parlamento ou executivo, deve ser um meio e não um fim em si mesmo. Os cargos deveriam ser para executar tarefas estratégicas para a construção do socialismo como está na Carta de Princípios do PT, e não para apenas reproduzir feudos políticos. Acho que, como partido, precisamos nos perguntar o tempo todo, o que estamos fazendo de concreto hoje, com o poder que temos, para conquistar a sociedade para o Socialismo? Para convencê-la com atitudes, resultados e argumentos a escolher as soluções que o socialismo propõe à sociedade baseado em valores como a solidariedade, a justiça e a sustentabilidade? Por que não conseguimos fazer do Orçamento Participativo, uma instituição adotada pela sociedade, independentemente de governo? Por que não debatemos abertamente, diante da sociedade, nossas conclusões sobre a dolorosa experiência do “Mensalão” que quase colocou a ruir todo o projeto partidário? Como estamos operando, em cada política pública, para desconcentrar renda e poder na sociedade brasileira? Como estamos enfrentando o debate ideológico na formação de valores na sociedade? E por aí vai. Meu nome surgiu entre companheiros e companheiras que querem construir repostas a essas perguntas, entre outras, com ações práticas, esta é uma das diferenças mais importantes a nosso favor, por onde passamos conseguimos dar respostas práticas e viáveis para desafios políticos programáticos importantes(como vou comentar mais adiante).

5)Por que você não apoiou a candidatura da Secretária Sueli Oliveira, já que vocês dois estão no campo da Mensagem ?
Embora se trate de uma das companheiras mais guerreiras do partido, não foi possível chegarmos a um nome de consenso na Mensagem, por razões relativas à condução da negociação que incide sobre questões programáticas também. A Mensagem não reuniu para escolher um nome para presidente ao PT Belém. Portanto, nem eu nem a Suely somos candidatos da Mensagem, mas tivemos a maturidade de manter a unidade na chapa para o diretório. Ou seja, a chapa da Mensagem tem um corpo e duas cabeças. Aliás duas boas cabeças para a militância escolher. O campo majoritário rachou todo, na cabeça e no corpo. Acho que a unidade programática da Mensagem é mais coerente e pode fazer o partido avançar mais.

6) Se eleito, o que você propõem para o PT Belém?
Pois bem, se os militantes petistas refletirem com cuidado, verão que, de acordo com os documentos básicos do partido, sua Carta de Princípios, seu Estatuto e as resoluções aprovadas no último congresso, a missão do partido é trabalhar, tanto nos movimentos sociais quanto nos espaços públicos, o aprofundamento da cultura democrática, a elaboração e implantação de políticas públicas que resolvam os problemas imediatos vividos pela sociedade e, ao mesmo tempo, construir estas políticas/soluções a partir de valores ideológicos pró socialistas, como a cooperação, a solidariedade, o trabalho e a sustentabilidade. Tudo isso para, através de nosso próprio exemplo, individual, como cidadão/ã e coletivo, como partido, conquistar a sociedade para idéias e práticas que construam a livre opção da sociedade pelo socialismo. Tomando este entendimento estratégico como ponto de partida, estamos propondo iniciar no partido um processo de potencialização e valorização de cada militante partidário a partir de sua própria realidade, onde mora, trabalha, se realiza etc. Para isso, com base na experiência concreta que vivemos na Unipop, no Banco do Povo, entre outras, propomos duas ações político-práticas que passarão a dar ao partido uma enorme força social. Uma ação deve articular a Economia Solidária à militância política de cada filiado e simpatizante e, a outra ação, potencializará a militância política dos filiados através de iniciativas de Controle Social(sobre o espaços públicos). Como propomos funcionar? Veja, somos em Belém mais de 14 mil filiados, sem contar inúmeros simpatizantes. Agora, na dimensão da Economia Solidária, imaginem o partido mobilizando e ajudando a formação ou fortalecendo empreendimentos, urbanos e rurais, que se organizam a partir da cooperação e do trabalho autônomo que reúnem milhares de pessoas. Podem ser cooperativas, associações ou redes de produtores, prestadores de serviços e consumidores. Podemos ajudar nossa militância a constituir clubes de troca, cartão de crédito solidário, banco cooperativo/comunitário, e uma série de outras demonstrações práticas de que uma outra economia já é possível, gerando inúmeros postos de trabalho, sem dever favor a ninguém, atraindo amplas parcelas da sociedade para uma experiência profundamente revolucionária, porque além de exigir a mudança de hábitos, exige também uma mudança de visão de mundo que supere a lógica capitalista da mera competição, da exclusão social, do preconceito e da concentração de renda e poder. Na dimensão do Controle Social, propomos começar com a implantação do Orçamento Participativo interno no PT Belém. Todos os militantes do PT Belém serão convidados a participar de um processo de planejamento e decisão sobre o investimento dos recursos partidários, assim como terão acesso aos dados detalhados dos gastos do partido. A partir desta demonstração efetiva de compromisso com a participação e a transparência, “de dentro de casa”, também atuaremos conformando núcleos de Controle Social nos bairros com nossos militantes e simpatizantes para, com autonomia, exercer uma cidadania mais qualificada e proativa. Grupos que poderão acompanhar a ação dos parlamentares, dos gestores de primeiro escalão do executivo, visando a participação, acompanhamento e fiscalização das políticas públicas. Somaríamos a essa rede de cidadania petista, redes virtuais para promover debates, e até pesquisas de opinião que manifestem a vontade da sociedade. Uma ação que poderá fortalecer enormemente a ação dos parlamentares e gestores petistas comprometidos com a participação social e a transparência no exercício da administração pública. Com isso, ampliaríamos nossa influência política sobre áreas como educação, saúde, segurança, emprego entre outros, em uma dinâmica viva de interação com a sociedade, oferecendo nosso próprio exemplo de ética e compromisso com a democracia, a solidariedade e com a solução definitiva dos principais problemas vividos pela sociedade. Acredito que este seja o único modo de apaixonarmos a sociedade pelo sonho socialista, nestes tempos de tanta desconfiança, desilusão e pragmatismo capitalista.

7) Qual a viabilidade de sua campanha ? você acredita que terá segundo turno?
Pois é, falando em pragmatismo capitalista, não teremos dinheiro para quitar em massa a anuidade de militantes, não teremos dinheiro para pagar vans para levar militantes para votar, nem temos estrutura para trocar apoio por emprego ou poder para constranger adversários e “aliados”. E, ainda que tivéssemos não o faríamos porque temos a convicção de que só se colhe o que se planta. Se vc quer colher o socialismo, tem que plantar cooperação, respeito, trabalho, justiça. Por exemplo, se vc plantar violência e humilhação com o uso irresponsável do poder passageiro que possuir, vc poderá colher tudo, menos fraternidade, liberdade e socialismo. Vc colherá medo, mas respeito, jamais. Portanto, se o cálculo de viabilidade for nos parâmetros do pragmatismo capitalista, estamos fora. Mas se tomarmos como parâmetro a busca do debate aberto e direto com a militância, mesmo sabendo que também teremos que enfrentar relações a partir de filiações em massa, então teremos chance. Espero que o partido mobilize pra valer a militância e demonstre seu compromisso com a construção de um partido inovador. Mas, além disso, trabalharemos muito com visitação presencial e virtual, através da internet. E, acho que pelo número e pela qualidade dos candidatos, se tivermos debates massivos a militância deverá dividir suas escolhas o que tende a levar o pleito a um segundo turno. Mais debate, mais participação, melhor para o partido. Acho que o processo é tão importante quanto o resultado, o que importa é que a vontade majoritária e consciente dos militantes seja feita. Me esforçarei para merecer esta escolha.



Respondendo ao internauta.

Anônimo disse...
ARROYO
HA MUITO TEMPO VOCÊ TRABALHA COM A ECONOMIA SOLIDÁRIA QUE NÃO CONSEGUE NEM ENGATINHAR QUANTO MAIS ANDAR
É ESTA SUA PLATAFORMA PARA A ELEIÇÃO DE 2010
SE FOR , JÁ PERDEU

A Economia Solidária, como movimento social, chegou ao Pará no início dos anos 2000. E, passou a articular experiências produtivas, urbanas e rurais, que se organizavam com base na cooperação e na autogestão. Neste momento eu era coordenador geral do Banco do Povo de Belém. E, foi a partir de nossa gestão, que se organizou o Fórum de Empreendedores da Economia Popular e Solidária que vive ativamente até hoje, ou seja, não foi uma experiência artificialmente fomentada a partir de um órgão de governo. Neste período, também ajudei a fundar a organização nacional de microcrédito sendo seu primeiro vice presidente nacional. Esta posição permitiu que contribuíssemos com a criação da Senaes(Secretaria Nacional de Ecosol do governo Lula) tendo sido convidado por Paul Singer para compô-la, o que declinei em função do chamamento partidário para assumir a chefia de gabinete da Sudam. Indiquei então o Haroldo Mendonça que não era do meu grupo político mas tinha perfil para a tarefa, do que não me arrependo, inovando na prática política do partido. De lá para cá, mesmo tendo perdido o Banco do Povo na lamentável gestão do Dudu, o movimento continuou avançando com autonomia. Já realizou inúmeros eventos, feiras, cursos e se tornou no principal tema debatido no Fórum Social Mundial. Na montagem do governo de Ana Júlia, lá estava a Economia Solidária adotada como um departamento na Secretaria do Trabalho. Mais recentemente acabamos de conquistar a aprovação da Lei Estadual de Economia Solidária e sansionada pela governadora. Diante destes fatos de domínio público, entre outros que seria demasiado citá-los aqui, digo que o movimento pela Economia Solidária tem tido, em apenas 10 anos, grandes avanços, mas claro, muito mais há que conquistar. Conquistas que desde o início não são possíveis para uma pessoa só. Conquistas que eu tenho a honra e a satisfação de ter participado juntamente com tantos outros militantes que, em muitos momentos, até me superaram em competência e dedicação. Sei da importância que tive e tenho, no movimento da Ecosol no Pará e no Brasil, mas não acredito em “salvadores da pátria”, já vi algumas lideranças se apropriarem de trabalhos coletivos para se promover e não concordo com isso. Sem fugir de responsabilidades pessoais, acredito que os grandes avanços e as grandes conquistas só são possíveis quando refletem uma vontade prática coletiva. Por tudo isso, a ecosol, para mim, é uma opção de vida que vai além da política. Não sou eu que a uso, é ela que me usa, e o permito com consciência e prazer por estar convencido que é o melhor para todos, para mim e para você. Se isto me levar à derrota, irei feliz porque terei perdido apenas uma eleição, mas nunca o sonho, nunca a fé no melhor do ser humano, nunca o compromisso com a construção prática da igualdade, da justiça, da democracia e da sustentabilidade como entendo hoje o socialismo, nunca terei perdido a minha dignidade.
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12.10.09

Economia Solidária


Nobel premia teses sobre o papel da cooperação para maior eficiência da economia

Nesta segunda-feira, o Nobel de Economia foi atribuído aos americanos Oliver Williamson e Elinor Ostrom (a primeira mulher a receber este prêmio), por seus trabalhos separados sobre a economia das organizações.
Com a premiação a Ostrom e Williamson, a academia reconhece dois estudiosos que contribuíram de forma decisiva durante três décadas para colocar a política econômica como campo de pesquisa central, demonstrando que as análises econômicas podem jogar luz sobre a maior parte de formas de organização social.
Ostrom demonstrou que as associações de proprietários podem administrar com sucesso propriedades comunitárias, enquanto Williamson desenvolveu uma teoria na qual as empresas servem de estruturas para a resolução de conflitos.
A partir de estudos de propriedades comuns de áreas pesqueiras, pastagens, florestas, lagos e águas, Ostrom concluiu que os resultados são com frequência melhores do que predizem as teorias convencionais, e que os usuários desenvolvem mecanismos sofisticados para tomar decisões e reforçar as regras ao tratar de conflitos de interesses.
Deste, modo Ostrom esclareceu as características centrais do autogoverno, como a participação ativa dos usuários é essencial, e que as regras impostas de fora têm menos legitimidade e há maior probabilidade de que sejam violadas.
Williamson se propôs a esclarecer por que algumas transações ocorrem dentro das empresas e não nos mercados, e concluiu que as organizações hierárquicas emergem quando as transações são complexas ou não standards, e quando as partes são interdependentes.
O marco geral estabelecido por Williamson mostrou também ser produtivo para analisar todo tipo de contrato incompleto, desde os realizados entre membros de uma família aos contratos financeiros entre empresários e investidores.
Ostrom e Williamson sucedem no histórico do prêmio o compatriota Paul Krugman, agraciado por sua análise dos padrões de comércio e da localização da atividade econômica. Destaca-se o fato de os 3 premiados, desde Krugman, trabalharam para demonstrar que laços orgânicos de confiança em torno de pactos éticos, tornam processos econômicos mais estáveis, sustentáveis e mais dinâmicos no sentido de maximizarem a criatividade e a inovação para resolver problemas da sociedade. Também destaca-se que os 3 são autores que incorporam em suas análises econômicas as chamadas “externalidades” expurgadas por outros pesquisadores. Com isso colocam os problemas sociais como, também, econômicos e, portanto, o sucesso econômico não pode ser medido sem se considerar os indicadores sociais, contrariando frontalmente a lógica neoliberal.
O Nobel de Economia, que na realidade se chama Prêmio de Ciências Econômicas em memória de Alfred Nobel, foi adotado em 1969 pelo Sveriges Riksbank (Banco da Suécia), que financia o prêmio, é concedido pela Real Academia Sueca de Ciências e tem a mesma premiação financeira que os outros.
O anúncio do de Economia fecha a rodada de ganhadores dos prêmios Nobel, que será entregue em 10 de dezembro em cerimônia em Estocolmo e em Oslo.
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