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2.4.10

Campanha da Fraternidade 2010 – Mal estar e revelação



O que é ser cristão? Seja católico, evangélico ou de qualquer outra inspiração.
As duras críticas que, pela primeira vez, fazem à Campanha da Fraternidade, neste ano de 2010, ao mesmo tempo em que demonstra o mal estar que provocou em alguns segmentos da sociedade, também nos proporcionou algumas revelações proféticas. Ou seja, a causa do mal estar provocado pela CF 2010 tem como causa exatamente as revelações que apresenta à sociedade.

“Ninguém pode servir a dois senhores: ou odiará a um e amará o
outro, ou se apegará a um e desprezará o outro.
Não podeis servir a Deus e ao Dinheiro” (Mt 6,24).

A citação bíblica adotada como referência da Campanha, mas pouco usada nas paróquias, se completa e se esclarece com outra do mesmo evangelho “Não acumuleis para vós tesouros na terra, onde as traças e os vermes arruínam tudo, onde os ladrões arrombam as paredes para roubar. Mas acumulai para vós tesouros no céu.” (Mt 6,19-20a). Não deixando dúvidas sobre qual “senhor” os cristãos, e cristãs, devem seguir.

Com esta abordagem clara e direta sobre o centro da causa das desigualdades, violências e misérias em que vivemos – o modelo econômico – a Campanha da Fraternidade tem recebido ataques de muitos setores que sempre se abrigaram em uma igreja que colocava apenas nos céus as soluções para os maiores problemas terrenos, como se Deus nos quisesse discriminados, violentados e empobrecidos.

Algumas abordagens do fenômeno existencial da fé humana, são usadas para confundir a sociedade que, sob esta ótica, tem dificuldade de entender o que é obra de Deus e o que é obra dos seres humanos. O que cabe ao espírito e o que cabe ao corpo. Muitos fiéis não entendem a contradição entre a suntuosidade das igrejas e a pobreza dos que a freqüentam, como se a suntuosidade fosse uma dádiva divina, quando na verdade é produto da soma da doação em dinheiro dos fiéis que assim não percebem a força que possuem em suas próprias mãos.

Ora, é muito simples, se as pessoas entenderem que Deus nos brindou com a vida e com todas as oportunidades de torná-la boa, digna, confortável e solidária como ar puro, continentes, rios e mares – e mais, que nos brindou com a liberdade de escolher o que fazer com tudo o que Ele nos deu –, descobrirão que só depende de nós a possibilidade de termos uma vida equitativa, segura e farta para todos e todas. Mas que para isso é necessário valorizar mais o amor que o egoísmo, mais a cooperação que a competição, mais a partilha do que a concentração de poder e riqueza material. E que esta, aí sim, é uma escolha de dimensão espiritual e ideológica.

Mas há os que querem manter os fiéis na confusão. Primeiro foi o jornal gaucho Zero Hora, agora surgem “intelectuais” que prestam serviço àqueles poucos e “grandes” que ganham com as desigualdades, violências e misérias. Aqueles que se incomodaram com a corajosa abordagem da CF 2010, acusaram o golpe a seus interesses e passaram a tentar desqualificar e até ridicularizar a Campanha da Fraternidade.

Em defesa de seus interesses, próprios ou por encomenda, estes interlocutores tentam passar a idéia de que a Campanha da Fraternidade presta um desserviço à sociedade ao jogar os trabalhadores contra os donos do capital, acusação muito usada no Brasil nos tempos da Ditadura Militar(1964 a 84). Também argumentam que esta postura da igreja é uma volta à Idade Média quando a igreja católica condenou o lucro em defesa dos interesses da decadente monarquia de então contra a acumulação da emergente burguesia, o que gerou o cisma puxado por Lutero e o surgimento do protestantismo.

No entanto, omitem que, na verdade, a reflexão proposta pela CF 2010 é bem diferente do que se estabeleceu no processo final do feudalismo, na passagem para o capitalismo, quando a mesma igreja que condenava o lucro passou a cobrar, em dinheiro, a absolvição dos pecados humanos – a chamada indulgência. O debate que ora se propõe não é contra o capital, nem contra o lucro, mas como e a que custo, estes tem sido produzidos e o que se tem feito com eles para que a vida, maior dádiva divina, seja aproveitada pelo conjunto da humanidade, da melhor maneira possível.

Aliás, reflexão que se propõe para além dos fiéis das igrejas cristãs. A CF 2010, terceira de caráter ecumênico, se propõe a “Colaborar na promoção de uma economia a serviço da vida, fundamentada no ideal da cultura da paz, a partir do esforço conjunto das Igrejas Cristãs e de pessoas de boa vontade, para que todos contribuam na construção do bem comum em vista de uma sociedade sem exclusão”. É necessário conclamar a todos e todas para construir uma nova sociedade, educar essa mesma sociedade afirmando que um novo modelo econômico é possível, e denunciar as distorções da realidade econômica existente, para que a economia esteja a serviço da vida.

Denunciar, conclamar e educar. Esta é uma orientação politicamente moderna aos que tem humildade para assumir a responsabilidade de, efetivamente, fazermos um mundo melhor e que não adianta culpar Deus por nossos fracassos nesta missão.

Materiais da Campanha da Fraternidade 2010 para download

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